Não é preciso ir muito longe para perceber como a sociedade ainda sofre com a desigualdade de gênero. Pelo contrário, mulheres vivem sentindo na pele, diariamente, os impactos dessa problemática.
Embora muitos passos tenham sido dados nos últimas décadas, estamos longe de alcançar minimamente condições igualitárias entre homens e mulheres. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, estima-se que levará mais de 257 anos até que a verdadeira igualdade de gênero se torne uma realidade.
Não é possível falar sobre igualdade de gênero e seus desafios sem citar o movimento feminista e toda a sua luta por equidade, que já fez belas conquistas desde séculos passados.
Tampouco podemos esquecer que vivemos sob a imposição de uma sociedade patriarcal, ou seja, traz o homem no centro de todas as relações de poder: econômico, social, familiar, etc.
A segunda edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, aponta dados importantes sobre as condições de vida das mulheres brasileiras e como alcançar a igualdade de gênero esbarra em desafios relacionados, principalmente, ao mercado de trabalho e espaço de tomadas de decisão.
Confira abaixo as principais questões sociais para as dificuldades de se alcançar a igualdade de gênero!
O que dificulta alcançarmos a igualdade de gênero
Educação
Os dados apontam que as mulheres no Brasil são, em média, mais instruídas do que os homens - a proporção de pessoas com nível superior completo foi de 15,1% entre os homens e 19,4% entre as mulheres.
Porém, essa instrução não se reflete nas remunerações e facilidade da mulher no mercado de trabalho, já que os homens são melhores remunerados e possuem maior taxa de participação na força de trabalho.
Filhos
O estudo apontou que o nível de ocupação entre mulheres na faixa etária entre 25 e 49 anos, com crianças de até 3 anos é menor do que as que não possuem filhos - 54,6% contra 67,2%.
Entre os homens, a situação é o inverso! A taxa de ocupação de homens com crianças até 3 anos é maior do que entre os que não possuem.
Quando fazemos o recorte racial entre as mulheres a situação é ainda mais crítica. As pretas e pardas apresentaram níveis de ocupação inferiores a 50%, contra mais de 60% das brancas.
Ou seja, para as mulheres, ter um filho pequeno as coloca em situação de desigualdade com os homens no mercado de trabalho.
Salário
A diferença salarial dos homens em relação às mulheres também é um fator que impacta na desigualdade. As mulheres receberam 77,7% do total recebido pelos homens. Entre diretores e gerentes, as mulheres receberam 61,9% do rendimento masculino.
Afazeres domésticos
A responsabilidade pelos afazeres domésticos e cuidados é duas vezes maior entre as mulheres, ou seja, elas se dedicam o dobro do tempo para essas atividades em relação aos homens.
Mais de 24 horas semanais em trabalhos domésticos. Esse é o tempo de dedicação das mulheres que estão nos 20% da população com menor rendimento. Já no grupo dos 20% com maiores rendimentos, essa dedicação é de 18 horas.
Isso se deve ao fato de que com uma renda maior, essas mulheres podem recorrer ao trabalho doméstico remunerado, contratação de babá, entre outros. E essas atribuições de cuidado geralmente são atribuídas a outras mulheres.
A dupla jornada ainda faz com que boa parte das mulheres tenha reduzida a sua atuação no mercado de trabalho ou seja direcionada para ocupações menos remuneradas.
Representatividade política
O Brasil é o país da América do Sul com a menor proporção de mulheres exercendo mandato parlamentar na Câmara dos Deputados.
É preciso assegurar às mulheres igualdade de oportunidade nos processos de tomada de decisão, e ainda a participação ativa da vida pública nos campos cívico, econômico e político, assumindo posições de liderança no setor público e privado.
Violência
Além da subnotificação dos casos, a ausência de pesquisas específicas sobre a violência doméstica também são fatores que corroboram com a desigualdade.
Os dados apontam que 30% dos homicídios de mulheres ocorreram dentro de casa, enquanto entre os homens a proporção foi de 11%. Embora haja a Lei Maria da Penha para os casos de feminicídio, que determina, entre outras coisas, a criação de delegacias especializadas, apenas 7,5% dos municípios contam com esse aparato.
Como promover a igualdade de gênero
Para alcançar a igualdade de gênero é preciso uma mudança profunda de mentalidade e ações de toda a sociedade. Citamos alguns pontos de mudança que podem contribuir para a equidade:
- Divisão de tarefas domésticas e cuidados com os filhos: reduzindo o tempo de cuidado e trabalho doméstico, as mulheres podem estar mais dedicadas à sua carreira e inserção no mercado de trabalho.
- Fortalecimento de políticas públicas: creche, transporte, segurança, asilos, são ferramentas do Estado que garantem mais condições para que as mulheres possam se qualificar, estudar e trabalhar, reduzindo a demanda de cuidados, que na maior parte das vezes recai sobre elas.
- Combate à violência: é preciso tirar a condição de vulnerabilidade em que muitas mulheres se encontram, por medo e insegurança de denunciar seus agressores. A violência tira das mulheres a oportunidade de construírem uma vida digna.
- Mulheres na política: não apenas pela representatividade, mas com as mulheres na política aumentam as chances de pautar a formulação de políticas públicas que dão suporte aos assuntos de interesse: equidade, oportunidades, proteção contra a violência, entre outros.
Como podemos notar, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que haja equidade entre os gêneros. São vários os fatores, como citamos acima, que faz com que as mulheres não consigam estar no mesmo ponto de largada do que os homens.
E toda essa condição de inferioridade feminina tem no patriarcado a raiz do problema, pois ainda que haja um forte movimento de empoderamento feminino e conquista de direitos, os homens continuam largando na frente, confortáveis em seus privilégios.
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