A partir da menarca até a menopausa, calcula-se que mulheres passam, em média, por 400 ciclos menstruais, de acordo com dados do Uol. Ou seja, dá para concluir que é a relação mais íntima e duradoura que uma mulher possui ao longo da vida.
No entanto, essa relação torna-se “abusiva” depois de um tempo, uma vez que a maior parte das mulheres começa a conectar o ciclo menstrual como algo ruim, desconfortável. Aquela pedra no sapato, sabe?
Ou seja, começa uma preocupação com a falta de menstruação, uma procura por métodos para parar a menstruação, um temor da cólica antes da menstruação e por aí vai. Sem contar o fato de que, em sociedades ocidentais e orientais, falar sobre esse assunto ainda é um tabu.
Afinal, é um movimento do corpo humano que qualifica uma mulher passiva de reprodução, ao passo que também é visto como algo sujo, nojento e desconfortável. Tanto para homens, quanto para mulheres.
Ademais, por vezes a tensão pré-menstrual (TPM) é utilizada como desculpa para incapacitar a mulher, classificá-la como “insuportável” e oprimir seus sentimentos.
A razão dessas percepções distorcidas são diversas, entretanto, é possível destacar uma sociedade patriarcal, com ideologias que religiões, sobretudo, a católica reproduziu a partir do século XV no movimento de perseguição religiosa conhecido como “Caça às Bruxas”.
No entanto, que visão teríamos em relação ao nosso ciclo menstrual caso rompessemos com esse pensamento e nos espelhassemos em comunidades matriarcais que vinculavam (e vinculam) menstruação e espiritualidade?
O que é espiritualidade?
Antes de falarmos sobre cinco formas práticas de se relacionar melhor com o seu ciclo menstrual, é importante compreender o que é espiritualidade e qual a diferença entre religião.
É claro que a Fleurity reconhece que é este é um assunto complexo e delicado. Prova disso são as inúmeras discussões e pesquisas realizadas no campo científico.
No entanto, há uma explicação sucinta que a artista performática, Marina Abramović, oferece no documentário “Espaço Além”, disponível no YouTube.
Nele, Abramović faz uma espécie de etnografia pelo Brasil, viajando por lugares místicos, pesquisando comunidades espirituais, pessoas e lugares de poder. Em certo momento, ela se propõe a compartilhar a forma como enxerga a diferença entre religião e espiritualidade.
“Não gosto de religiões porque elas me remetem às instituições. Gosto de espiritualidade, que é uma coisa completamente diferente. Eu escolho os elementos que melhor se encaixam nessa mistura, mas, novamente, faço tudo sempre dentro do contexto da arte”, explica Abramović,.
Assim sendo, a espiritualidade pode ser entendida como a intimidade do ser humano com algo maior - sem a caracterização do que é esse “algo”. Ou, ainda, a espiritualidade está ligada ao misticismo enquanto a religião considera o dogma - um sistema de princípios de caráter indiscutível.
Menstruação e espiritualidade
Nas sociedades antigas matriarcais, a menstruação era um período onde a mulher possuía maior poder espiritual. Elas consideravam que, apesar da energia física estar menor, principalmente pela perda de sangue, a sensibilidade e a intuição estavam intensificadas.
Logo, era um momento de maior introspecção, conexão com outras mulheres, com a natureza, especialmente com a lua. Inclusive, o ciclo menstrual era chamado de “dias de lua”.
Assim sendo, “elas eram separadas dos demais e iam para o meio da floresta, para as tendas da Lua, onde ficavam sentadas na terra, devolvendo o sangue e meditando”, como explica a agência Patrícia Galvão. Quando voltavam do período de reclusão, eram consideradas gurus, uma vez que possuíam a clareza necessária para tomar decisões.
Além disso, em outras culturas, o sangue da menstruação era recolhido para ser utilizado na terra como fertilizante natural, com o objetivo de garantir boas colheitas.
Comunidades matriarcais
Apesar de vivermos em uma organização social liderada por homens (patriarcal) e nos referirmos às sociedades matriarcais no passado, como acima, há comunidades matriarcais contemporâneas. Abaixo, você confere algumas:
- Mosuo, perto da fronteira do Tibete;
- Minangkabau, considerada a maior sociedade matriarcal do mundo, está localizada no oeste de Sumatra, Indonésia;
- Akan, em Gana;
- Nagovisi, povo que vive em uma ilha no oeste de Nova Guiné;
- Bribri, no cantão de Talamanca, na Costa Rica.
No entanto, essas são comunidades "governadas por mulheres que não somente comandam o local, como também herdam as terras e educam os filhos sozinhas, por exemplo”, afirma o site Hypeness.
Tratando-se de menstruação e espiritualidade, o destaque vai para a Tribo africana Dogon, também conhecida como um povo com um conhecimento intenso sobre cosmologia.
Tribo Dogon: menstruação e espiritualidade
Por lá, a tribo Dogon possui uma cabana menstrual dedicada às meninas. E ao contrário do que possa parecer, isso não ocorre porque a menstruação é vista como algo ruim.
Os Dogon acreditam que elas precisam de um espaço recluso, pois compreendem a menstruação como algo místico, conectado à espiritualidade.
Portanto, essas cabanas existem para as meninas "colocarem em prática seus poderes xamânicos especiais, que se intensificam no período menstrual”, explica o site We Mystic.
5 formas práticas de se relacionar melhor com o seu ciclo menstrual
Depois dessa viagem histórica e esclarecimento de alguns conceitos, refaço a pergunta inicial do texto: que visão teríamos em relação ao nosso ciclo menstrual caso nos espelhassemos em comunidades matriarcais que vinculavam (e vinculam) menstruação e espiritualidade?
O primeiro passo é livrar-se da ideia de que menstruação é sinônimo de dor e desconforto. Esse tipo de pensamento não é necessariamente uma livre escolha; faz parte de uma construção social.
Dessa forma, comece a entender que todo o mês o seu organismo oferece a você uma oportunidade de abraçar o seu eu, a sua existência.
Isto é, é uma chance de pensar em como você está vivendo seus dias.
Um exemplo disso é o ciclo menstrual desregulado ou o fluxo intenso ou esmorecido: o que o seu corpo está tentando comunicar? Ademais:
Pesquise sobre o Sagrado Feminino
Se este texto fez algum sentido para você, como uma espécie de última dica, pesquise sobre o Sagrado Feminino. De antemão, já podemos dizer que o primeiro e mais importante passo para praticá-lo é o autoconhecimento.
Mas, voltando a esse movimento, para se ter uma ideia, existem cursos, grupos no WhatsApp, comunidades, retiros espirituais que buscam conectar mulheres em prol do autoconhecimento e do empoderamento, com uma perspectiva espiritual.
Ou seja, esses grupos do Sagrado Feminino trazem à tona todo o conhecimento que foi “apagado” por religiões monoteístas ao longo da história. Para tanto, elas utilizam vários métodos, tais como:
- Dança circular;
- Medicina alternativa;
- Mandala lunar;
- Ciclos da natureza;
- Inspiração na história de mulheres como Maria Quitéria.
E aí, ficou curiosa? A gente possui o texto perfeito para você: O que é Sagrado Feminino? Saiba como despertar a essência feminina que há em você.
Esperamos que você tenha gostado do texto. Ah, caso você ainda não siga a Fleurity Brasil no Instagram, não perca tempo e dê um “seguir” para ter acesso a mais conteúdo sobre tudo o que envolve ser mulher!